Dados do Ministério da Saúde obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye mostram que o Tocantins aparece na quarta posição no ranking nacional com 121 cidades detectadas 27 agrotóxicos na água. Araguaína foi encontrado Glifosato acima do limite considerado seguro no Brasil, Enquanto Gurupi foram detectado três agrotóxicos e Paraíso do Tocantins foram detectados 11 acima do limite. “A informação é alarmante e merece toda a atenção”, alerta a doutora em química analítica e Mestre em química da UFT, Grasiele Soares Cavallini, do Campus da UFT de Gurupi.
por Wesley Silas
Conforme a investigação Gurupi, Araguaína e Paraíso do Tocantins estão entre as 1.300 cidades brasileiras com agrotóxicos na rede de abastecimento de água no período entre 2014 a 2017 e dos 27 agrotóxicos monitorados, 20 são listados como altamente perigosos pela Pesticide Action Network.
Entre os locais com contaminação múltipla estão Araguaína onde foi encontrado Glifosato acima do limite considerado seguro no Brasil. Gurupi foram detectado três agrotóxicos acima do limite considerado seguro, sendo eles Endossulfan (Extremamente Tóxico e proibido no Brasil e na União Europeia), Endrin (Extremamente Tóxico) e Tebuconazol (Pouco Tóxico). Já Paraíso do Tocantins os números são ainda mais alarmantes e foram detectados 11 agrotóxicos acima do limite considerado seguro na União Europeia, sendo eles Aldicarbe, Carbendazim, Carbofurano, Clorpirifós, Diuron, Glifosato, Mancozebe, Metamidofós, Parationa Metílica, Profenofós e Tebuconazol.
O herbicida Glifosato encontrado em Araguaína, é o agrotóxico mais vendido no Brasil, está na lista da Pesticide Actions Network avaliado como Altamente Perigoso. Ele é classificado como provável cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), entidade vinculada à Organização Mundial de Saúde.
“A informação é alarmante e merece toda a atenção, tanto dos órgãos responsáveis pela qualidade de água fornecida à população, quanto das entidades que regulamentam o uso de agrotóxico no país”, comenta a professora do Campus da UFT em Gurupi, Grasiele Soares Cavallini. Ela é licenciada em Química, mestre em química aplicada e doutora em química analítica.
No caso de Gurupi, a doutora citou os problemas que o endrin pode causar nas pessoas que ingerir quantidade acima do aceitável.
“Quanto a ingestão diária aceitável do endrin, uma pessoa adulta de 70 kg, pode ingerir no máximo 0,014mg/dia, pois a classe dos organoclorados, da qual e endrin faz parte, integra substâncias que podem interagir com o sistema nervoso central, tendo como possível efeitos tremores e convulsões. Por isso é importante monitorar a concentração desta, e de outras substâncias como forma de proteção à saúde humana”, disse.
Paraíso do Tocantins
Confira aqui o link com a relação das cidades.
O que diz a BRK
A BRK Ambiental, concessionária de água responsável pelo fornecimento na principais cidades do Tocantins, garantiu à reportagem do Portal Atitude que a qualidade da água fornecida à população é atestada por testes realizados diariamente, segundo os parâmetros da Portaria N° 5/2017 do Ministério da Saúde e que a qualidade de água nas cidades que ela atua estão dentro dos limites de segurança.
“No Tocantins são mais de 70 mil análises realizadas todos os meses que avaliam características diversas, incluindo análises para avaliar a presença de agrotóxicos. Todos os testes realizados desde 2014 mostram que os níveis apresentados estão abaixo do nível permitido. A concessionária assegura que a água distribuída na cidade está dentro dos padrões de qualidade e respeita os limites de segurança estabelecidos pelos órgãos de fiscalização”, disse.
O que diz a Vigilância Sanitária
A reportagem do Portal Atitude também procurou informações com a Vigilância Sanitária do município de Gurupi, órgão responsável em dar o alerta a BRK Ambiental sobre os serviços de abastecimento de água no sentido de tomar providências para melhorar o tratamento da água.
Em resposta a Secretaria Municipal de Saúde de Gurupi por meio da Vigilância Sanitária informou que a análise da água é feita pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Tocantins (Lacen-TO), que segue a portaria do Ministério da Saúde que estabelece que seja feito a análise físico-químico e microbiológico.
“A vigilância de Gurupi é responsável apenas pela coleta da água mensalmente e encaminha ao Lacen que realiza as análises e nunca fez nenhuma objeção à água fornecida aos gurupienses. A Vigilância ainda informa que o Ministério estabelece que a cada seis meses a própria concessionaria realize a análise da água e esclareça sobre a medida”, explicou por meio de nota.
No entanto, conforme as investigações das jornalistas Ana Aranha e Luana Rocha, responsáveis pelas investigações conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye, as informações questionadas pela reportagem do Portal Atitude à BRK Ambiental e à Vigilância Sanitária do Município de Gurupi fazem parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), e reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento. “Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país”, aponta o levantamento. Elas relatam ainda que, apesar de tratar de informações públicas os testes não são divulgados de maneira compreensivas aos cidadãos brasileiros, deixando-os “no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água” contaminado com agrotóxico.
Ainda conforme a reportagem das jornalista Ana Aranha e Luana Rocha, uma das maneiras de evitar que os agrotóxicos cheguem nas torneiras das casas seria o trabalho de prevenção nos mananciais, mas são poucos que querem enfrentar o problema e assumir a responsabilidade. “O esforço deve ser na prevenção porque o sistema de tratamento convencional não é capaz de remover os agrotóxicos da água”, afirma gerente da divisão de toxicologia humana e saúde ambiental da Cetesb, Rubia Kuno.